

Depois dos ataques criminosos em diversas partes do Rio de Janeiro nos últimos dias, cujos principais alvos foram as forças de segurança do estado, os policiais fluminenses têm trabalhado sob forte tensão e em uma carga horária exaustiva de até 72 horas seguidas. Como resistir, mantendo a boa saúde física e psicológica, quando se tem que trabalhar debaixo de uma densa atmosfera de medo, apreensão e desgaste?
‘O clima na PM hoje é de muita apreensão porque aqueles que estavam de serviço quando aconteceram os ataques no Rio não puderam sair dos quartéis e os que estavam de folga foram convocados a trabalhar. O que a gente sempre questionou no atual governo é o desvio de função dos policiais, já prevendo que teríamos homens sobrecarregados de trabalho quando acontecesse uma situação como essa dos últimos dias. Atualmente temos mais de cinco mil policiais com desvio de função e, quando acontece uma calamidade dessas, os PMs são obrigados a ficar 24, 48 e até 72 horas de serviço direto. Agora, com a chegada do réveillon, provavelmente isso vai se estender, esses policiais vão ser obrigados a ficar nos quartéis por mais horas ainda. Isso porque o esquema de segurança da corporação no réveillon é apenas o de colocar os PMs fazendo hora extra, sem garantia nenhuma. Por isso, existe uma apreensão muito grande nos policiais nesses dias e nas famílias dos policiais tambémâ?, denuncia o presidente da Associação dos Ativos, Inativos, Pensionistas das Polícias Militares, Brigadas Militares e Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (Assinap), Miguel Cordeiro.
Segurança no réveillon
Apesar do quadro dramático vivido pelos policiais nos últimos dias, o presidente da Assinap acredita que as festas de passagem do ano na orla carioca, onde estará a maior concentração de pessoas, irão ocorrer em clima de tranqüilidade. No entanto, para Miguel Cordeiro, o trabalho dos PMs pode ser prejudicado devido ao cansaço físico e mental.
‘Temos condições de combater novos possíveis ataques criminosos. No entanto, vale lembrar que o ser humano não agüenta esse estresse todo, o policial trabalha 48 horas direto, sem ver a família, os filhos. Isso nos deixa com receio de como será o trabalho desses policiais. Acredito que nesse réveillon a gente vai ver muita patrulha parada com um PM sentado e outro em pé do lado de fora do carro fazendo a segurança. Isso mostra uma situação de estresse e cansaço desses policiais, que poderão se tornar alvos fáceis de bandidos. No meu entendimento, isso é uma política errônea do governo do estado. Se tirássemos os policiais que estão à disposição de autoridades, de parlamentares, e colocássemos nas ruas, teríamos efetivo maior para combater o crime organizadoâ?, lamenta Miguel Cordeiro.
O efetivo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é de 38.594 ativos e 23 mil inativos. A corporação tem 197 anos de existência.