Quase três anos depois de o motociclista Vítor Moura dos Santos, de 19 anos, ter sido perseguido e morto com um tiro na nuca ao passar sem parar por uma blitz da Polícia Militar em Honório Gurgel, na Zona Norte do Rio, o juízo da 1ª Vara Criminal da Capital bateu o martelo e decretou a prisão preventiva de quatro PMs envolvidos no crime. Lotados no 9º BPM (Rocha Miranda), os PMs Adilson Batista dos Reis, Sanzio Tavares Umbelino, Washington dos Santos Batista e Roquelane Peres Campelo são acusados de forjar um auto de resistência para encobrir o assassinato do rapaz. A vitima não tinha antecedentes criminais e estava desarmada.
Apesar disso, os PMs apresentaram uma pistola com numeração raspada, na 29ª DP (Madureira) e disseram que a arma estava com Vítor. O crime ocorreu no dia 29 de julho de 2013. No despacho da juíza Viviane Ramos de Faria, que no último dia 11 de janeiro decidiu pela decretação das prisões, a magistrada ressaltou que os policiais tentaram montar uma farsa. “…Consta dos autos que, após cometimento de crime gravíssimo, os policiais forjaram situação que justificaria suas condutas, imputando à vítima fato criminoso para se eximirem de responsabilização criminal. Não satisfeitos em terem ceifado a vida de um jovem de 19 anos, os réus entenderam por bem apresentar arma de fogo na delegacia de polícia, relatando à autoridade policial de plantão, versão de que a vítima estaria praticando roubos na localidade, juntamente com um segundo elemento”, escreveu a juíza.
O caso foi registrado pelos PMs na 29ª DP e depois avocado para Divisão de Homicídios(DH). A Polícia Civil apurou que Vítor estava sozinho na motocicleta. Ele não teria atendido a ordem de parar porque não tinha carteira nacional de habilitação. Segundo a polícia Militar, todos os quatro PMs que foram denunciados e tiveram as prisões decretadas estão atualmente presos no presídio da PM, em Niterói. Mas nem sempre foi assim. Sete meses depois da morte do motociclista, o cabo PM Adilson Batista dos Reis, que confirmou ter feito quatro disparos durante a abordagem que tirou a vida de Vítor, ainda não havia sido afastado de suas funções. No dia 11 de fevereiro e 2014, Reis se envolveu em mais um crime semelhante. Ele e outros dois policiais foram acusados de forjar um confronto ( auto de resistência) ência para encobrir as mortes dos mototaxistas Gleberson Nascimento Alves e Alan de Souza, em Rocha Miranda.
Aguardo da condenação
O motorista Diógenes Alves Santos, de 53 anos, pai de Vítor Moura, disse que aguarda apenas e condenação dos PMs envolvidos na morte do seu filho, para entrar na Justiça com um pedido de indenização contra o estado. O rapaz era único filho homem de Diógenes, que é pai ainda de duas meninas.
— Ele era o caçula. Meu coração só vai ficar aliviado quando eles forem condenados. Já falei com meu advogado. Vamos entrar com um pedido de indenização assim que sair a condenação. Meu filho foi assassinado a poucos metros da nossa casa — disse o motorista.
No dia 11 de julho de 2013, Diógenes e o filho saíram juntos de casa, mas ao cruzarem o portão da residência, tomaram direção opostas. Vítor dobrou à esquerda e foi devolver uma motocicleta para um amigo, que havia lhe emprestado o veiculo. Já o motorista dobrou à direta, e seguiu rumo ao trabalho. Depois de passar pelos policiais, Vitor foi perseguido e caiu na Rua Cauá, na esquina com Rua Turina. Os PMs alegaram que só dispararam após o rapaz ter dado um tiro. E alegaram ainda, que Vítor estava em companhia de um homem que conseguiu fugir.
Testemunham presenciaram a perseguição e garantiram que Vítor não estava armado e que estava sozinho. Após o adolescente ser atingido na nuca,uma mochila com uma arma foi colocada ao lado do seu corpo. O crime mudou para sempre a vida de Diógenes.
— minha vida mudou bastante. Fiquei depressivo e tive que fazer um tratamento médico para conseguir voltar a trabalhar —disse o motorista.
Procurada, a assessoria da Polícia Militar confirmou que os PMs envolvidos na morte de Vítor continuam presos. Ainda segundo a PM, um processo disciplinar foi aberto para investigar a conduta dos militares.